Especialistas alertam para cuidados com a primeira infância



Especialistas dizem que muitos dos problemas psicológicos vividos por adultos, inclusive o comportamento violento, têm origem na primeira infância.
A primeira infância — período que vai de zero a seis anos — é decisiva para a formação da personalidade do ser humano. Estudos mostram que bebês e crianças bem cuidados têm maiores chances de se transformar em adultos saudáveis, equilibrados e tranquilos.
Por isso, essa faixa etária vem recebendo cada vez mais atenção da sociedade, de especialistas e do poder público. O desafio é melhorar o tratamento dispensado à primeira infância, seja dentro do lar ou em instituições, como escolas, hospitais e abrigos.
Problemas psicológicos de adultos podem ter origem nesta fase da vida
De acordo com o pediatra Laurista Corrêa Filho, muitos dos problemas psicológicos vividos por adultos têm origem nessa fase da vida. "As raízes da violência estão na primeira infância", alerta o médico, que é especialista em saúde da mulher e da criança pela Universidade de Sorbonne, Paris.
Maus-tratos sofridos nesses primeiros anos ou até mesmo problemas enfrentados pela mãe ainda durante a gravidez, como depressão, podem repercutir muitos anos depois.
Até meados do século 20, acreditava-se que o recém-nascido era uma tábula rasa, um ser vazio. Hoje, sabemos que o bebê nasce com informações e competências. O bebê é uma pessoa — defende Laurista, lembrando que recém-nascidos reagem, por exemplo, a sons conhecidos, como a voz da mãe.
Depressão materna é uma ameaça à saúde da criança
Para a psicóloga Jaqueline Wendland, a depressão materna é umas das principais ameaças ao desenvolvimento saudável da criança. Segundo ela, o mal atinge, no mundo, 20% das mulheres durante a gravidez e 15% após o parto.
Outros fatores de risco relacionados à situação da mãe são, de acordo com a psicóloga, estresse, ansiedade, tabagismo, alcoolismo, drogas, problemas financeiros e abandono familiar. "A criança pode reagir apresentando distúrbios emocionais e cognitivos, como dificuldades de adaptação escolar", explicou.
Laurista Corrêa Filho lembra que, no Brasil, há um fator de risco adicional, que é a gravidez na adolescência. "Cerca de 20% das adolescentes brasileiras vivem a gravidez precoce. Todos os anos nascem no país mais de 600 mil bebês de jovens que ainda não estão preparadas para exercer a maternidade", aponta.
Uma criança em situação de risco apresenta diferentes sintomas, que variam conforme a idade. Segundo Jaqueline, um bebê pode apresentar tristeza e distúrbios do sono, não comer direito, chorar muito e estar sempre doente.